Ameba´S Reflexões - ...e Joaninha voou.

... e Joaninha voou.

       Joaninha era a caçula, posterior a 3 irmãs. Tinha caráter discreto, tímida como tal nunca ousara expor suas vontades, sempre reprimidas mesmo antes de sair.
       Possuía uma paixão no mínimo singular, paixão pela lua. Todas as noites a espreitava da janela, a evocava, enamorava, porquanto a lua era do gênero masculino, mesmo o dicionário alegando que pertencia à classe dos substantivos femininos. E com os olhos semicerrados, petrificados, lábios fraquejantes, parecia ciciar ao vento, o mensageiro responsável por encaminhar sua mensagem. Seu ciciar confundia-se ao gorjeio de voz aguda, melodiosa e doce como o caramelo que costumava esconder no bolso.
       Ria. Era encantada. Com a convicção de que a lua correspondia às suas mansas palavras... Vivia. E isto gerava grande estranhamento a todos ao seu redor. Louca, bêbada, drogada, endemoninhada, perturbada, pequenos adjetivos dos tantos arrolados no julgamento trivial. No entanto, seu feitio nobre e pueril amansava seu minúsculo interior, ao mesmo tempo tão imenso para grandes sonhos, os quais fazem o pobre de espírito cego perante a luz.
       Mas a maior de todas as importâncias era que Joaninha acreditava neste encontro, breve ou tardio, mas sincero segundo à devoção que depositava no amor. Digo porque da paixão ao amor é só questão de tempo. Entretanto, não sei por que existem tantos advérbios adversativos. Há horas que só atrapalham! Perdão, voltemos... Entretanto, todas às vezes que ia para a janela lá vinham as irmãs, ofuscar a perfeição do encontro iminente.
- Sai daí sua louca!
       Mas um dia foi diferente.
- Não saio nunca mais - declarou Joaninha sem exclamar.
       A este comportamento o espanto nas faces alheias, tão habituadas com a resignação inata à pequerrucha.
- Não saio. E saibam que breve será o nosso encontro.
       Risos, motejos e tantos escarnecimentos, verdadeiramente incrédulos quanto ao sentimento puro que pulsava no peito pequenino. Mas ali continuou, Joaninha na janela a saudar seu amado eterno.
       Tempos se passaram, como a brisa corre rápida. Era dia frio, escuro, coberto por melancolias expressas no acinzentado do céu. Joaninha vestiu a melhor roupa do armário, seu vestidinho azul com bolinhas brancas, prendeu o cabelo anelado que cheirava a flores. Todavia estava descalça.
       Abriu a janela na madrugada, e eis que seu amado ainda estava lá. Reluzente ao vê-la, o revérbero do amor. Não havia ninguém por perto, Joaninha subiu na janela e pulou...

        e acreditem, ela voou, porque não existia ninguém que dissesse a ela que era impossível amar.



                                                                         Rodrigo.


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